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"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA, de Plínio Marcos

Escrita e estreada em 1966, em São Paulo, no Bar Ponto de Encontro, a obra foi inspirada no texto O terror de Roma, do escritor italiano Alberto Moravia. A história gira em torno de dois personagens, Paco e Tonho, sujeitos completamente distintos, que têm as vidas cruzadas ao acaso pelo destino.

Tonho é um pobretão metido a coitado, que sai de sua terra natal e vai a São Paulo em busca de um trabalho que lhe possa dar um mínimo de dignidade. Na metrópole, acaba se encontrando com Paco, um mau caráter metido a malandro, com quem divide o aluguel de um quartinho. Tonho sonha com um par de sapatos novos, para que possa ficar apresentável e conseguir um emprego mais digno, enquanto Paco planeja ficar rico às custas dos outros. Muito acontece nessa história dramática, até que após um assalto realizado pelos dois parceiros, Paco inferniza Tonho a tal ponto que descontrola o seu amigo e o único resultado é a trágica morte do próprio Paco, assassinado por Tonho.

A relação entre os personagens é de uma instabilidade constante, onde ódio, inimizade, intriga e, ao mesmo tempo, companheirismo conectam os dois. Em grande parte da peça teatral, ambos ficam dentro de um quarto, um ambiente prisional que mostra em detalhes a transgressão do ser humano, consumidos pela marginalização que a própria sociedade constrói. A solidão e o aparente cárcere levam os personagens à condição abjeta do ser. O ambiente criminal está instalado em toda obra. Tonho tem estudo, pensa diferente de Paco, visa a um emprego decente, mas acaba sendo consumido pela violência do companheiro.

A exploração do melhor pelo pior, do mais forte pelo mais fraco, eis o tema que a peça desenvolve até a “explosão” final. Após assaltarem um casal, o enredo começa a mudar o curso: os dois discutem sobre a partilha do assalto, Tonho revive a todo instante em sua memória o deboche de Paco sobre a história do tão sonhado par de sapatos novos e as brincadeiras sobre seu envolvimento com o “Negrão” do caminhão, apelidando-o de “Boneca do Negrão”. Ao fim da partilha lhe sobram somente os sapatos. Tonho fica extremamente irritado com toda a situação, além de os sapatos não servirem, e tem uma reação contrária a qualquer expectativa esperada. Tonho muda repentinamente a ação, tornando-se o criminoso. “Explode” em uma loucura momentânea, pega o revólver de Paco, põe uma bala e o ameaça matar; antes, porém, faz o sarcástico Paco usar brinco, dançar e rebolar sobre a mira do revólver, finalizando com um tiro e matando-o. Tonho sai de cena se anunciando como “Tonho Maluco! O Perigoso, Mau Pacas!”

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