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"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Comentário sobre a prova de Língua Portuguesa e Literaturas do Vest UFES 2014

Das nove obras indicadas no programa da prova de Língua Portuguesa e Literaturas, apenas o poema Monólogo de uma sombra não foi abordado. A maioria das questões cobrou aspectos literários dos livros, mesmo quando associados ao uso sintático-semântico de termos da língua portuguesa. A última questão, no entanto, explorou apenas pontos gramaticais, mesmo apoiada em trechos de obra literária.  As demais questões, como já me referi, foram propostas no sentido de verificar o conhecimento do vestibulando, relacionando as obras ao contexto e ao teor literário de sua produção.
É o caso da 1ª questão ("Singularidades de uma rapariga loura", Dois perdidos numa noite suja e O matador), em que se pedia a identificação do realismo nos excertos como escrita literária e/ou como período literário. Como escrita literária, os trechos das três obras apresentam as características apontadas por Harry Shaw; por outro lado, apenas o fragmento do conto de Eça de Queiroz foi produzido no período realista.
Ao solicitar ao candidato a explicação do uso proclítico em início de frase na fala do personagem Tonho, na 2ª questão, não bastava apenas apontar a coloquialidade desse uso. Pelo gabarito já divulgado, esperava-se que o vestibulando associasse esse uso à intencionalidade de imprimir realismo ao diálogo entre os personagens.
Na 3ª questão, esperava-se que o candidato reconhecesse as figuras de linguagem presentes nos fragmentos. Elas articulam o uso linguístico de termos da língua portuguesa ao fenômeno literário.
A 4ª questão, abordando a narrativa moçambicana Terra sonâmbula, dividiu-se em dois itens. O primeiro cobrou do estudante o conhecimento sintático-semântico, isto é, esperava-se que o vestibulando articulasse as ideias de causa e consequência ao personagem a que o trecho se refere, Taímo. O segundo item pediu um neologismo, explicado também do ponto de vista literário.
Puramente gramatical foi a 5ª e última questão, sem qualquer relação a explicação literária.
De maneira geral, a prova de Língua Portuguesa e Literaturas desse vestibular da UFES articulou conhecimento linguístico e literário.
Entre os links deste blog, encontram-se os atalhos para acessar as provas e as respostas esperadas.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Comentário sobre a 3ª questão da prova de Redação do Vest UFES 2014

A questão propõe a redação de uma carta, cujo destinatário é o presidente de uma associação de caminhoneiros, sobre uma das frases que geralmente se lê na traseira de um caminhão. A partir dessa escolha, o candidato determinaria o tema da questão. O assunto é preconceito: contra a mulher, no caso da primeira frase; contra o pobre, no caso da segunda; contra o Estado capixaba, se for a terceira frase; e contra a característica étnica, se for a quarta frase.
O remetente da carta poderia ser qualquer indivíduo que não concordasse com a reprodução preconceituosa de certos valores que ainda persistem em nossa sociedade ou mesmo alguém que se sentisse ofendido com a ideia veiculada na frase. Em ambos os casos, a carta deveria expressar discordância em relação à veiculação da frase preconceituosa. Pode-se argumentar apontando as conquistas que o segmento social discriminado tem conseguido ao longo da história e, sobretudo, mostrar ao destinatário as consequências legais que a continuidade da difusão dos chamados "dísticos" de caminhão poderia acarretar.
Em suma, o gênero "carta" também não é desconhecido pelo vestibulando, como também os temas a serem desenvolvidos são amplamente abordados em sala de aula do ensino médio. Também essa questão não apresentou coletânea de apoio, valorizando-se assim o conhecimento que cada candidato teria sobre o tema desenvolvido.

Comentário sobre a 2ª questão da prova de Redação do Vest UFES 2014

Diferente da primeira, a questão propõe uma hipótese de edição de revista que trata de assuntos ambientais. O candidato deveria redigir um editorial defendendo o uso da bicicleta como meio de transporte alternativo para os problemas do trânsito. Esse é o tema. O editorial de uma revista, por sua vez, constitui um gênero textual que representa a posição ideológica do veículo de comunicação, nesse caso voltado para o meio ambiente. Sem coletânea de apoio, o candidato poderia apresentar quaisquer argumentos que comprovassem a eficácia do meio de condução alternativo - a bicicleta - para solucionar problemas da mobilidade urbana. Apresento algumas ideias:
1 - Utilização da bicicleta como solução para diminuir a enorme quantidade de automóveis em circulação e a consequente diminuição de emissão de poluentes. A esses efeitos, podem-se acrescentar outros, como a economia do ponto de vista financeiro e os benefícios à saúde do ciclista.
2 - Construção de ciclovias com menos investimentos, em relação aos custos com ampliação de avenidas.
3 - Redução de problemas com transporte coletivo.
4 - Diminuição de acidentes de trânsito e, consequentemente, de vítimas. Se o candidato soubesse de alguma estatística sobre acidentes de trânsito, seria interessante colocar.
Esses e outros elementos, a partir do conhecimento de mundo e das leituras de cada um, podem ser estruturadores de um editorial, que teria uma introdução apresentando imediata e objetivamente o TEMA e a TESE (parágrafo inicial), um desenvolvimento (dois parágrafos com ARGUMENTOS em defesa do uso da bicicleta como solução para a mobilidade urbana) e uma conclusão (parágrafo final) em que se cobraria do poder público as medidas necessárias para estimular o uso desse transporte barato e saudável.
Enfim, o editorial é um gênero do tipo dissertativo-argumentativo, amplamente abordado na preparação dos candidatos para a prova de Redação. Não é a primeira vez que a Banca Examinadora da UFES propõe esse gênero, nem o tema também é tão distante de nossa realidade. A novidade, nessa prova, é que não houve textos de apoio, dificultando a abordagem do tema para aquele que não tem o hábito de leitura, mas, por outro lado, deixando ao candidato a escolha de seus próprios argumentos.


Comentário sobre a 1ª questão da prova de Redação do Vest UFES 2014

Escrever uma crônica sobre a própria experiência de escrita na escola básica - tema da questão - representa uma proposta audaciosa e inclusiva, pois supõe a presença de um sujeito - o candidato - que usará a memória para construir seu relato. Ao mesmo tempo que narra tal aspecto de sua vivência escolar, o cronista poderá exercer sua crítica quanto à abordagem dessa faceta da educação brasileira e à necessidade de engajamento do cidadão, pela escrita, em nossa sociedade letrada. Quem passou pela educação básica sabe que a presença da escrita na vida de um estudante geralmente se dá menos por prazer e mais por obrigatoriedade, seja em provas escritas, seja em processos seletivos. Em seu relato, possivelmente o cronista abordará as facilidades ou as dificuldades vividas, a relação com seus professores e as condições de produção, conforme seu ambiente escolar, sem citar nomes, obviamente. Na resposta, o candidato usará a primeira pessoa, com um texto bem pessoal sobre o tema, pois não se propõe qualquer situação simulada ou hipotética; pelo contrário, pede-se a experiência do indivíduo. Nesse caso, a mão do examinador possivelmente pesará sobre a estruturação do gênero "crônica", a abordagem do tema de forma subjetiva e ao mesmo tempo crítica, assim como o uso adequado da língua portuguesa em seu registro culto. A coesão e a coerência do texto também deverão ser muito valorizadas no processo textual. Nota dez para a proposta.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Obras literárias para o vestibular UFES 2015

Excelente medida a diminuição do número de livros indicados para o vestibular da UFES em 2015. Agora o candidato aos cursos que incluem prova discursiva de Literaturas de Língua Portuguesa (brasileira, africana e portuguesa) na segunda etapa vão ler 7 obras. A lista ainda é extensa, mas representa um avanço no programa da disciplina. Vejam a indicação:
I Dois perdidos numa noite suja  - Plínio Marcos (teatro)
II Terra sonâmbula - Mia Couto (narração/romance)
III Zero - Douglas Salomão (poesia)
IV Ai de ti, Copacabana - Rubem Braga (narração/crônicas)
V Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector (narração/romance)
VI Primeiras estórias - Guimarães Rosa (narração/contos: "Famigerado", "A menina de lá", "A terceira margem do rio", "Pirlimpsiquice" e "Darandina")
VII O livro de Cesário Verde - Cesário Verde (poesia)

Mantiveram-se os quatro primeiros do vestibular de 2014 e incluíram-se os três últimos. Produzirei apostila para os candidatos interessados. Aguardem!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ZERO, de Douglas Salomão

Como resumir um livro de poemas que não contém títulos, com distribuição tipográfica em que o branco da página também enuncia seu silêncio, com o capricho das formas lembrando os concretistas da década de 50 e, mais recentemente, sob os influxos midiáticos que intervêm na poesia performática de um Arnaldo Antunes? Inicia-se o livro com duas epígrafes: uma frase do escritor-crítico Maurice Blanchot e um poema concretista do Augusto de Campos. A epígrafe inicial anuncia a ruptura que permeará os mais de 80 poemas de Douglas Salomão: “Escrever é quebrar o vínculo que une a palavra ao eu”. Significa que os poemas não devem ser lidos pela ótica subjetiva, pois a presença do “eu-lírico” será constantemente apagada para falar mais alto a estética formal que permeia os poemas. Já o poema de Augusto de Campos configura a influência que persegue os textos poéticos do livro, na forma de um zero, que aparece como palavra e como imagem no que se convencionou chamar poema concreto, mas que realiza no aspecto grafo-icônico o conteúdo que almeja: o nada.
 
O ideário estético de Douglas Salomão inclui-se nessa linha de Augusto de Campos. Embora não tenha aderido totalmente à ruptura do verso tradicional, há alguns poemas que refletem essa estética.
Esses poemas visuais, portanto, longe de pertencerem a um estética dita “original”, fazem a releitura dos poemas de vanguarda do século XX, desde o cubo-futurismo, passando pelo concretismo brasileiro até chegar na poesia multimídia de Arnaldo Antunes, agora também representada na poesia de Douglas Salomão. Com já dito anteriormente, uma das propostas do livro é o distanciamento entre a palavra e o sujeito lírico (o “eu” do poema); no entanto, Douglas Salomão não segue à risca esse projeto estético, como impossibilidade de agregar-se a uma única estética neste início do século XXI. O apagamento do sujeito lírico, como já intentaram antes os poetas modernistas, não significa antilirismo. Pelo contrário, o lirismo se apresenta na voz que arruma as imagens e as contempla com certo distanciamento, sem perder, entretanto, sua identidade como persona lírica.

AI DE TI, COPACABANA, de Rubem Braga

Dentre os vários cronistas de século XX, Rubem Braga guarda um lugar de destaque na literatura brasileira. Maestro da palavra, Rubem Braga se notabilizou com algumas coletâneas e crônicas publicadas em jornais como o Correio da Manhã, Diário de Notícias, A Manhã, O Globo e Correio da Manhã, que foram reunidas em obras-primas do gênero como O conde e o passarinho (sua primeira antologia), Com a FEB na Itália, A borboleta amarela e Ai de ti, Copacabana.

Ai de ti, Copacabana foi lançado em 1960 e traz 61 crônicas escritas entre abril de 1955 a fevereiro de 1960, período em que o escritor peregrinou, como ele mesmo afirma na nota introdutória da obra, "do Correio da Manhã foi para o Diário de Notícias e deste para O Globo."

Rubem Braga é um escritor que se diferencia de seus contemporâneos pelo fato de explorar o lirismo em suas crônicas. Diferentemente de um texto qualquer, a palavra recebe um tratamento poético digno de um Carlos Drummond de Andrade ou de um Vinícius de Moraes. Mestre no descobrir o lado significativo dos acontecimentos triviais, comunica suas descobertas ao leitor numa prosa de admirável simplicidade e precisão, cujo teor poético advém de uma visão essencialmente líricas das coisas.

Rubem Braga cria uma crônica poética, na qual alia um estilo próprio e um intenso lirismo, provocados pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza.

A obra abre com a crônica "A corretora do mar", em que o poeta Rubem Braga relembra o dia em que ele rejeitou, inicialmente, uma proposta de compras de terras por ter "uma pena imensa de cortar árvores." Para sua surpresa, ou como estratégia de venda, a vendedora compartilha desta opinião: "Também tinha (pena). E então baixou a voz, sombreou os olhos de poesia e me disse que ela mesma, corretora, também comprava duas parcelas naquele terreno. E tinha certeza que também não teria coragem de mandar cortar seus pinheiros." Extasiado, não necessariamente pela oferta, mas pelos olhos azuis da vendedora, "confesso que paguei a primeira prestação: ela passou o recibo, sorriu, me disse ‘muchas gracias’ e ‘hasta lueguito’ e partiu com os olhos azuis, me deixando meio tonto, com a vaga impressão de ter comprado um pedaço do Oceano Pacífico."

Lirismo igualmente intenso veremos também na crônica "A minha glória literária", em que ele relembra uma composição de seu tempo de colégio sobre a lágrima: "Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebata pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima."

A genialidade também aflora ao inventar, "Entrevista com Machado de Assis", um programa em que Machado de Assis, 50 anos após sua morte, é entrevistado, respondendo apenas com frases de suas crônicas, contos e romances. Sobre o trabalho, responderia Machado: "O trabalho é honesto, mas há outras ocupações pouco menos honestas e muito mais lucrativas."; sobre as brigas de galo: "A briga de galos é o Jockey Club dos pobres"; "— O amor dura muito?". Resposta: "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos". Cúmulo de humildade, o entrevistador ainda pede desculpas: "De qualquer modo, desculpa por havê-lo incomodado. Mas é que neste programa sempre entrevistamos alguém que já morreu...". Resposta: "Há tanta coisa gaiata por esse mundo que não vale ir ao outro arrancar de lá os que dormem..."

"Quando o Rio não era Rio" apresenta também um belíssimo retrato de um Rio de Janeiro, então, para o autor, somente imaginário: "As pessoas grandes que chegavam do Rio traziam malas fabulosas, cheias de presentes para todos. (...) As coisas do Rio de Janeiro eram assim, cheias de milagres e astúcias. E à noite, quando vinham visitas, os viajantes contavam as últimas anedotas do Rio de janeiro, pois naquele tempo não havia rádio. Lembro-me que, apesar de sentir esse fascínio do Rio de Janeiro, eu não pensava nunca em vir aqui. Isso simplesmente não me passava pela cabeça; o Rio de Janeiro era um lugar maravilhoso, onde vinham pessoas grandes e até eu pensava vagamente que no Rio de Janeiro só devia haver pessoas grandes."

Uma sutil ironia, sem deixar de lado o lirismo, pode ser identificada na belíssima crônica "A mulher esperando o homem", em que o autor aborda o drama feminino quando na espera por seu amado, apesar de ser um tema recorrente, "sei que é velho, já serviu para sonetos, contos, páginas de romances, talvez quadros de pintura, talvez músicas", Rubem Braga apresenta possibilidades de se diminuir o sofrimento pela espera do amado: "devia haver funcionários especiais, capazes de abastecer de quinze em quinze minutos, jurar que todas as providências já foram tomadas, 'estamos seguros de que dentro de poucos minutos teremos alguma coisa a dizer à senhora"'. Um fato importante é o de que para o autor, independente da mulher, o sofrimento é significativo: "não importa que seja a esposa vulgar de um homem vulgar; e que no fim a história do atraso dele seja também vulgar, neste momento ela é a mulher esperando o homem"; e que se o homem soubesse o que se passa na cabeça de uma mulher enquanto ela o espera, "é possível que ele ficasse pálido, muito pálido."

A crônica-título da obra é igualmente passível de ser comentada, visto a sua temática: a destruição da pecaminosa Copacabana. Rubem Braga, em "Ai de ti, Copacabana", apresenta uma intimidação irônica ao tradicional bairro boêmio do Rio de Janeiro na forma de 22 itens que exploram o cotidiano e os vícios da praia: "2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras (...) 3. (...) estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia. (...) 5. Grandes são os teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafinado o mar; mas eles se abaterão. (...) 8. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum. (...) 10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente à hora da aprovação." Mesmo as mulheres e os homens sofrerão as agruras: "11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleo odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência." E tais pecados não serão automaticamente perdoados: "16. (...) a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão. (...) 19. Pois grande foi a tua vaidade , Copacabana, e fundas as tuas mazelas." Por fim, a derradeira ameaça: "22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa. (...) Canta a tua última canção, Copacabana!”

TERRA SONÂMBULA, de Mia Couto

O título faz referência a dois importantes componentes dessa narrativa: a terra e o sonho. Mia Couto inicia o livro descrevendo a paisagem moçambicana:

“Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Em cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão. Em resignada aprendizagem da morte”.

Ao abordar a “aprendizagem da morte”, o escritor apresenta a situação de Moçambique, que no ano de 1975, após uma década de guerra, conquista sua independência do colonialismo português. No entanto, esse acordo entre a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e Portugal, assinado em 1975, não libertou os moçambicanos da guerra. O cenário moçambicano era o mesmo, a guerra civil havia se estabelecido em Moçambique e só teria fim em 1992, com o Acordo Geral da Paz assinado pelo presidente de Moçambique e pelo presidente da RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique). Muidinga (o miúdo) e Tuahir são personagens cercados por este cenário, pela estrada morta, pelas cores sujas, enquanto ambos caminham juntos sem destino, “em busca do adiante”. São estereótipos dos milhares de moçambicanos, vagando em campos de refugiados.

Nessa dura caminhada, Muidinga e Tuahir param ao encontrar um machimbombo (ônibus) queimado, e ali decidem descansar. O miúdo encontra dentro de uma mala cadernos manuscritos e passa a lê-los. Assim o menino e o velho passam a compartilhar o diário de Kindzu e vão encontrando personagens e histórias guiadas por sonhos, num Moçambique não muito distante. Em seu diário, Kindzu relata a busca por sua identidade, seu desejo de ser um guerreiro naparama e as dificuldades que a vida lhe impôs. Conta sobre a família: o pai, velho Taímo, era pescador e, segundo Kindzu, “sofria de sonhos”; a mãe que lhe ensinava a ser sombra; entre os irmãos, Kindzu fala de Junhito que havia ganhado o nome “Vinticinco de Junho” devido ao dia da independência de Moçambique. Após a morte do pai, Kindzu parte da casa onde morava com a mãe, por sentir-se perdido e insatisfeito. O garoto parte para uma viagem, sem destino final, sendo diversas vezes perseguido e atormentado pelo espírito e pelas lembranças do pai morto.

Tuahir, Muidinga e Kindzu são frutos de seu país, seguem sem rumo certo, desorientados, situação um tanto semelhante com Moçambique, durante a guerra civil. Terra sonâmbula nos permite imaginar a situação em que se encontra o país, pois os relatos do velho Tuahir, de Muidinga e de Kindzu mostram a vida num local tomado pelos horrores da guerra, onde sonhar se torna um meio de fuga da cruel realidade. O livro denuncia a pobreza , o abandono do povo, uma terra sem lei, os efeitos da guerra.

Os sonhos de Kindzu guiam sua viagem e seus relatos. Seu pai aparece nos sonhos, atormentando-o, mas algumas vezes o orienta. Em uma de suas conversas com o pai, questionado sobre o que escrevia nos cadernos, Kindzu comenta que escreve conforme vai sonhando. Taímo responde que é bom ensinar alguém a sonhar. Os sonhos e as fantasias aparecem de forma importante no livro, dão esperança, como no caso da viúva Virgínia Pinto que utiliza a fantasia para poder seguir sua vida tranquilamente e desviar os olhares dos interesseiros. A própria terra onde os personagens Tuahir e Muidinga se encontram se torna sonâmbula, pois a cada amanhecer os personagens deparam com mudanças no local, como se ela se movimentasse enquanto eles dormem. As viagens dos personagens promovem mudanças nos próprios viajantes, pois muitas vezes passam por locais já conhecidos, mas observados de outra forma.

Quando caem numa armadilha e encontram Siqueleto, um velho que vivia sozinho sonhando com a reconstrução de sua aldeia, destruída pela guerra, é o velho que se encanta com seu nome escrito por Muidinga. Não há confronto de culturas, Mia Couto demonstra o valor de cada uma: o analfabeto, o letrado, o conhecedor, o sábio, cada um marcando sua importância para Moçambique.

Em sua viagem, Kindzu se vê mediante a morte do amigo Surendra, o amor de Farida e, mais tarde, a perda da amada; encontra a ganância em Assane, a fome e o sofrimento no campo de refugiados onde encontra tia Euzinha. As mudanças presenciadas por Kindzu o afetam profundamente, como também Muidinga, ao ler seus cadernos. Tuahir e Muidinga fingem em um determinado momento ser Kindzu e Taímo, saem da realidade vivendo a fantasia, chamam-se de pai e filho. É durante sua caminhada com o velho Tuahir que Muidinga descobre que o tio havia lhe tirado da cova, que seria enterrado vivo até que Tuahir percebe o engano. Muidinga descobre também que havia ingerido um tipo de mandioca venenosa e foi tido como morto. Além da descoberta de seu passado, o miúdo se depara com novas descobertas, como a perda da virgindade com as “velhas profanadoras”. Aos poucos, instala-se uma relação parental, pois Tuhair de tio passa a ser pai. Afinal, Muidinga simboliza qualquer criança órfã, não apenas local, mas de todas as guerras, em todas as épocas.

Em Terra sonâmbula, os personagens se encontram em situação precária, uma vez que o sofrimento e a dificuldade caminham juntos nas viagens de Kindzu, Tuahir e Muidinga. A história nos faz mergulhar e nos aproxima da realidade vivida pelos moradores de Moçambique, nos tempos de guerra. Mia Couto descreve cuidadosamente cada sofrimento, cada dificuldade e cada momento vivido por seus personagens de forma encantadora e poética. Logo, o leitor se vê obrigado a mergulhar junto nessa terra de sonhos e assim acaba também fantasiando e sonhando junto com seus personagens. Quando finalmente Kindzu tomba sob uma arma de fogo não se sabe de onde, conforme relata em seu último caderno intitulado “As páginas da terra”, ocorre o cruzamento entre as duas narrativas, pois no momento da enunciação, Kindzu encerra seu caderno vislumbrando um garoto que tem em suas mãos as folhas diárias de Kindzu, que o chama Gaspar. Finalmente Kindzu encontra quem procurava e Muidinga descobre sua origem.

DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA, de Plínio Marcos

Escrita e estreada em 1966, em São Paulo, no Bar Ponto de Encontro, a obra foi inspirada no texto O terror de Roma, do escritor italiano Alberto Moravia. A história gira em torno de dois personagens, Paco e Tonho, sujeitos completamente distintos, que têm as vidas cruzadas ao acaso pelo destino.

Tonho é um pobretão metido a coitado, que sai de sua terra natal e vai a São Paulo em busca de um trabalho que lhe possa dar um mínimo de dignidade. Na metrópole, acaba se encontrando com Paco, um mau caráter metido a malandro, com quem divide o aluguel de um quartinho. Tonho sonha com um par de sapatos novos, para que possa ficar apresentável e conseguir um emprego mais digno, enquanto Paco planeja ficar rico às custas dos outros. Muito acontece nessa história dramática, até que após um assalto realizado pelos dois parceiros, Paco inferniza Tonho a tal ponto que descontrola o seu amigo e o único resultado é a trágica morte do próprio Paco, assassinado por Tonho.

A relação entre os personagens é de uma instabilidade constante, onde ódio, inimizade, intriga e, ao mesmo tempo, companheirismo conectam os dois. Em grande parte da peça teatral, ambos ficam dentro de um quarto, um ambiente prisional que mostra em detalhes a transgressão do ser humano, consumidos pela marginalização que a própria sociedade constrói. A solidão e o aparente cárcere levam os personagens à condição abjeta do ser. O ambiente criminal está instalado em toda obra. Tonho tem estudo, pensa diferente de Paco, visa a um emprego decente, mas acaba sendo consumido pela violência do companheiro.

A exploração do melhor pelo pior, do mais forte pelo mais fraco, eis o tema que a peça desenvolve até a “explosão” final. Após assaltarem um casal, o enredo começa a mudar o curso: os dois discutem sobre a partilha do assalto, Tonho revive a todo instante em sua memória o deboche de Paco sobre a história do tão sonhado par de sapatos novos e as brincadeiras sobre seu envolvimento com o “Negrão” do caminhão, apelidando-o de “Boneca do Negrão”. Ao fim da partilha lhe sobram somente os sapatos. Tonho fica extremamente irritado com toda a situação, além de os sapatos não servirem, e tem uma reação contrária a qualquer expectativa esperada. Tonho muda repentinamente a ação, tornando-se o criminoso. “Explode” em uma loucura momentânea, pega o revólver de Paco, põe uma bala e o ameaça matar; antes, porém, faz o sarcástico Paco usar brinco, dançar e rebolar sobre a mira do revólver, finalizando com um tiro e matando-o. Tonho sai de cena se anunciando como “Tonho Maluco! O Perigoso, Mau Pacas!”

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

SÍNTESE DOS GÊNEROS TEXTUAIS RECORRENTES NAS PROVAS DE REDAÇÃO EM VESTIBULARES[1]


GÊNERO
CARACTERÍSTICAS
ESTRUTURA
1. Carta aberta
Formato de carta, para publicação em veículo de comunicação; contém ponto de vista sobre assunto de interesse social; existência de remetente (coletivo/individual) e destinatário (coletivo/individual); título com destinatário ou assunto: Carta aberta à população brasileira ou Carta aberta sobre a situação dos controladores de vôo; texto datado.
Introdução com apresentação do remetente e do motivo da carta aberta.
Desenvolvimento com considerações e argumentos.
Conclusão com reafirmação do propósito da carta.
Local e data com assinatura (iniciais, se remetente individual)
2. Carta argumentativa
Texto de correspondência, com formato decalcado: local e data, vocativo, corpo da carta, saudação final, assinatura.
Introdução com apresentação do remetente, do tema e da tese assumida sobre o tema. Atenção: a proposta pode pedir máscara do remetente.
Desenvolvimento com argumentos.
Conclusão com reafirmação da tese assumida.
A assinatura depende das instruções. A UNICAMP instrui que sejam as iniciais. Caso não haja qualquer orientação, usar as iniciais do próprio nome.
3. Cartão postal
Trata-se de uma simplificação da carta simples. Tem a forma de um pequeno retângulo de papelão fino, com a intenção de circular pelo Correio sem envelope; uma das faces destina-se ao endereço do destinatário, postagem do selo, mensagem do remetente; a outra contém alguma imagem, geralmente um fotografia local ou reproduçao de uma peça artística ou publicitária.
Como se trata de carta, contém: local e data, vocativo, corpo da carta, saudação final, assinatura. Aproxima-se mais de um bilhete, pois mesmo sendo missiva informal com assunto particular, circula sem envelope. A linguagem é informal e o número de linhas é limitado. Estrutura-se em:
Introdução com objetivo do cartão.
Desenvolvimento com informações, considerações ou detalhamento do objetivo do cartão.
Conclusão com reafirmação do objetivo do cartão.
4. Manifesto
Texto de apoio ou repúdio a uma questão de ordem social; programa ideológico e/ou literário (Manifesto Comunista, Manifesto Futurista...); geralmente sem destinatário; signatário individual ou coletivo; texto datado.
Introdução com apresentação do assunto.
Desenvolvimento com considerações e argumentos.
Conclusão com reafirmação do propósito do manifesto.
Local e data com assinatura (iniciais, se remetente individual)
5. Conto
Narração ficcional, com narrador, personagem, ação, espaço, tempo. Foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa (narrador personagem ou narrador observador)
Introdução com apresentação de personagem, cenário, tempo
Desenvolvimento com ações (conflito entre personagens)
Desfecho (solução do conflito)
6. Fábula
Narração curta, que contém uma instrução moral, em forma sintética, cujos personagens são animais que representam qualidades humanas.
Introdução com apresentação de personagens, cenário, tempo
Desenvolvimento com ações (conflito entre personagens)
Desfecho (solução do conflito)
7. Relato de viagem
Relato de experiências vividas durante uma viagem; foco de interesse mais no lugar visitado e menos nas emoções do sujeito; texto datado.
Introdução com características mais atrativas.
Desenvolvimento com a exploração de aspectos mais relevantes: belezas naturais, pontos turísticos, culinária, folclore, arquitetura, transporte etc.
Conclusão com a impressão geral sobre o lugar visitado.
8. Relato autobiográfico
Relato de experiências durante a vida, desde o nascimento até o momento da escrita; memórias, redigidas em primeira pessoa, em que o narrador destaca os fatos mais importantes de sua vida para um leitor.
Introdução com auto-apresentação — por exemplo, data e local de nascimento, nome dos pais(com máscara, no caso do vestibular, para não haver identificação na prova de redação), características físicas e psicológicas.
Desenvolvimento com ações marcantes vividas na infância, adolescência e idade atual.
Conclusão com expectativas, projetando o futuro conforme instruções da prova de redação.
9. Biografia
Relato de experiências durante a vida de uma pessoa, desde o nascimento até o momento da escrita, redigido em 3ª pessoa, em que o biógrafo destaca os fatos mais significativos da vida de uma pessoa (real) ou de um personagem (fictício) para um leitor. Existem biografias autorizadas (em que o biografado colabora com os próprios dados) e biografias não autorizadas (geralmente contendo fatos escandalosos).
Introdução com apresentação da pessoa ou do personagem — por exemplo, data e local de nascimento, nome dos pais, características físicas e psicológicas.
Desenvolvimento com ações marcantes vividas na infância, adolescência e idade adulta.
Conclusão com fatos relevantes que marcaram a vida do biografado, como seu papel social, por exemplo.
10. Diário íntimo
Registro de experiências vividas no dia; foco nas impressões, emoções e sentimentos do sujeito diante de fatos, acontecimentos e reflexões cotidianos; texto datado.
Data (dia, mês e ano)
Estrutura-padrão: introdução, desenvolvimento e conclusão.
11. Testemunho
O testemunho é um gênero que se encontra entre a autobiografia e a biografia. Depoimento em 1ª pessoa.
Estrutura-se como um tipo narrativo.

12. Notícia
Texto informativo; veiculação de um fato real que desperte interesse no leitor, expressa de maneira rápida e direta.
Introdução com apanhado geral dos fatos.
Demais parágrafos com particularização dos aspectos mais importantes. Notícias de maior extensão apresentam depoimentos de testemunhas do fato ou autoridades sobre o assunto.
13. Crônica
Registro de fato do cotidiano, a partir de experiência vivida, em que o cronista faz suas reflexões. Foco narrativo em 1ª pessoa; geralmente texto datado.
Introdução com apresentação do fato que será analisado.
Desenvolvimento com relato e reflexões do cronista.
Conclusão com reafirmação do ponto de vista adotado.
14. Diálogo argumentativo
De caráter persuasivo, visa apresentar argumentos a fim de provocar, entre os interlocutores, mudança de ideia, atitude ou comportamento; não há narrador.
Estrutura dialógica, graficamente disposta em parágrafos e travessões. Os argumentos seriam os que os interlocutores trocariam em função de uma tese e defesa dessa tese.
15. Resenha resumo ou resenha descritiva
É um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de uma peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor.
Devem constar:
O título (no vestibular, somente se for solicitado nas instruções)
A referência bibliográfica da obra
Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada
O resumo ou a síntese do conteúdo.
16. Resenha crítica*


Além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também denominado de recensão crítica.

Devem constar:
O título (no vestibular, somente se for solicitado nas instruções)
A referência bibliográfica da obra
Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada
O resumo ou a síntese do conteúdo
A avaliação crítica
Se for o caso, fazer comparação com outro autor (questão de vestibular).
17. Texto ou artigo de opinião*
Texto jornalístico argumentativo; tese sobre o tema dado, que será defendida com argumentos.
Introdução com tese sobre o tema.
Desenvolvimento com argumentos. Conclusão com reafirmação da tese.
18. Editorial*
Texto jornalístico argumentativo: reflete a ideologia do veículo de comunicação; geralmente não é assinado; tese sobre o tema dado, que será defendida por meio de argumentos.
Introdução com tese sobre o tema.

Desenvolvimento com argumentos.

Conclusão com reafirmação da tese.
19. Comentário crítico*
É um texto que apresenta descrição do objeto — charge, anúncio publicitário, quadrinhos — ou assunto a ser comentado. Apresenta também um aspecto avaliativo, com juízo de valor sobre o objeto ou assunto, tendo, portanto, teor dissertativo.
Introdução com descrição do objeto ou apresentação do assunto e da opinião.

Desenvolvimento com argumentos e considerações.
20. Ensaio*
Texto científico-acadêmico, de defesa de um ponto de vista, associado a um assunto mais amplo em investigação; geralmente destina-se a trabalhos de fim de semestre nos cursos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras; pode ser referência a seção jornalística que apresenta ponto de vista; trata-se, portanto, da nossa conhecida dissertação; linguagem dissertativa exige objetividade, porém deve ficar evidente o ponto de vista assumido pelo ensaísta.
Introdução com tese, usando recurso técnico de parágrafo introdutório (alusão histórica, definição, divisão, citação – ótimo iniciar citando com artigo de lei, por exemplo).
Desenvolvimento com argumentos que podem ser organizados por: analogia, confronto (ótimo fazer contra-argumentação), causas e conseqüências, exemplificação, citação (inclusive argumento de uma autoridade no tema), enumeração de dados estatísticos (argumento difícil de refutar), tudo isso articulado a uma tese (é importante explicitá-la na introdução). Enunciados de questões às vezes propõem o uso de certo recurso argumentativo.
Conclusão com a reafirmação da tese, em que se faz uma síntese da argumentação, dessa vez mostrando a articulação dos fundamentos para comprovar seu ponto de vista; pode ser proposta de solução (na prova do ENEM geralmente se pede).
21. Discurso*

Trata-se de gênero discursivo produzido para ser proferido oralmente a um auditório em um evento solene. Expressa formalmente a maneira de pensar e de agir do(s)locutor(es) e sua visão acerca dos interlocutores presentes na solenidade. Por se tratar de um texto construído com o objetivo de defender um ponto de vista sobre determinado assunto, buscando o convencimento do auditório e, logo, sua adesão às ideias defendidas, é um gênero com características predominantemente expositivo-argumentativas.
Devido a essa forma de interação, o ponto de vista defendido deve ser fundamentado com explicações, razões, ilustrações, citações etc.
22. Verbete
É um gênero textual comum a enciclopédias e dicionários, seja na forma tradicional, seja na forma eletrônica. Em prova de redação, o título do texto é o termo a ser definido, explicado e exemplificado; localiza-se à esquerda do texto. O texto se inicia a linha abaixo, constituído por parágrafos. Basicamente é um texto descritivo-informativo, escrito em 3ª. pessoa, portanto sem qualquer referência subjetiva.
Constitui-se de:
Título: termo a ser definido
1º parágrafo: definição do termo; pode ser feita de forma sucinta a descrição gramatical: substantivo, adjetivo, verbo etc., bem como suas flexões.
2º parágrafo: exemplos de situação em que o termo aparece.
Dependendo da proposta de redação, pode-se também apresentar uma vantagem e uma desvantagem do uso do conceito atribuído ao termo.
23. Relatório
Trata-se de um texto informativo-descritivo, em que os redatores apresentam informações sobre atividades desenvolvidas em escolas, em ambientes de trabalho, em visitas técnicas, em projetos acadêmicos etc. Deve ser redigido de forma objetiva, sem uso da 1ª. pessoa do singular ou do plural. Geralmente o relatório é dirigido a chefes, supervisores, professores etc.
Basicamente, um relatório apresenta a seguinte estrutura:
Apresentação do projeto (público-alvo, objetivos e justificativa). Isso pode ser feito em um parágrafo.
Relato das atividades desenvolvidas e comentário(s) sobre os impactos das atividades na comunidade. Trata-se do desenvolvimento do relatório. Portanto, haveria um ou mais parágrafos para apresentar as atividades desenvolvidas e um parágrafo conclusivo, apresentando os benefícios sociais dessas atividades.
* Os textos são de caráter dissertativo, portanto possuem a mesma estrutura-padrão, consideradas as diferenças estruturais do gênero.





[1] Quadro organizado por professora Virgínia Cœli Passos de Albuquerque, com base nas provas de redação de vestibulares dos últimos dez anos.