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"Ao fundo sou eu, mas será verdade / que sou? O fundo é que me inventa? / Terei mesmo essa identidade / feita de tinta apenas?" Palavras que respiram por Miguel Marvilla

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dia Nacional da Poesia... E poesia tem dia?

Calíope, Musa da Epopéia
Estátua de mármore
Data: século II
Roma, Musei Vaticani
Há humana necessidade de determinar um dia para homenagear a falta... Falta de poesia, falta de leitura, falta de atitude, falta de valor, falta de compromisso, falta de cidadania... Falta... Até de palavras... Mas como vivemos o dia a dia das homenagens que compensam A  FALTA - e por isso todo dia é dia de alguma coisa... que falta - nada melhor que lembrar algumas sábias - talvez anti-emotivas - palavras de Carlos Drummond de Andrade no poema "Procura da poesia", publicado no livro "A rosa do povo" em 1945.
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Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
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